O avanço de sua fama tem sido tão explosivo, é fácil pensar no Waterparks como uma história de sucesso da noite para o dia. Mas a estrada envolveu uma década em busca de sonhos, enfrentando medos e silenciando dúvidas internas de Awsten Knight. Ele se abre como nunca sobre a jornada de sua vida…
Entrevista cedida à Kerrang! Magazine
Escrito por: Emily Carter
Tradução por: Catherine
Fotos por: Jonathan Weiner e Alice Baxley
Há dois painéis de memorando na parede do apartamento de Awsten Knight, que ele vê todos os dias. Posicionados a seis metros da porta da frente do grande apartamento para o qual ele se mudou recentemente em Los Angeles, esses acessórios caseiros criativos desempenham um papel crucial na maneira como o rapaz de 28 anos aborda a vida.
O primeiro dos dois acessórios de bricolage (DIY) exibem nove fotos cuidadosamente selecionadas e recortadas de pessoas pelas quais Awsten se inspira, com os rostos estáticos fornecendo orientações para os próximos passos do vocalista do Waterparks. O segundo é um quadro de visão mais geral, com todas as coisas que ele deseja alcançar mapeadas, incluindo lembretes e citações inspiradoras. Há até uma foto da banda — completada pelo guitarrista Geoff Wigington e pelo baterista Otto Wood — embelezada com o logotipo do lendário programa dos EUA, Saturday Night Live, que Awsten acrescentou digitalmente por conta própria. Por quê? Porque ele quer que o trio toque lá um dia, é claro.
"Sou muito visual com tudo em geral e preciso estar vendo as coisas", explica ele. "Você é uma combinação de tudo o que admira e tudo o que gosta, por isso, quando coloca todas essas coisas à sua frente, está colocando uma energia positiva por aí. As pessoas podem zombar, mas é assim que as coisas acontecem."
Nos últimos anos, Awsten, diz ele, "venceu a m*rda" de alguns desses objetivos. Se mudar de sua casa de infância em Houston, Texas para Los Angeles? Feito. Assinar com uma equipe de gerenciamento? Absolutamente — e eles são um dos melhores, na forma de MDDN, dirigidos pelos gêmeos Joel e Benji Madden do Good Charlotte. Awsten também esperava que o Waterparks conseguisse chegar à página — ênfase no singular aqui — de uma revista. Bem, que tal uma capa da Kerrang!, colega.
As leis da atração, ao que parece, desempenham um papel enorme no mundo da jovem e mais carismática estrela do rock. Tendo corrido para casa, depois de deixar o cabelo "esverdeado, retocado, um pouco aparado e pronto para ir" para conversar com Kerrang! à frente da sessão de fotos que acompanhará esta edição [da revista física], Awsten está tentando entender o turbilhão da sua vida até agora. Seu ardoroso sotaque texano está mais ansioso do que o habitual, graças a uma combinação de nenhuma comida e muito café, mas quando ele se instala no fluxo de nossa conversa de uma hora e meia, o vocalista faz uma pausa para refletir sobre seus momentos mais transformadores. Quando adolescente, por exemplo, ele se lembra de como, de alguma forma, sentia que a música seria onde ele encontrou seu chamado — muito antes mesmo de o Waterparks existir.
"Nunca houve um momento do 'A-ha!' em que bateu a ideia", ele encolhe os ombros. "Mas eu sempre esperei por isso, e acho que, naturalmente, saber que eu iria fazer música realmente me ajudou."
Ainda assim, não era um passeio no parque (aquático) para chegar aqui. Embora Awsten tenha começado a aprender sobre o lado comercial e de marketing das bandas a partir dos 13 anos ("Eu estava tentando promover o maior de lixo de todos os tempos!"), ele também rapidamente percebeu que teria que fazer muito trabalho por conta própria para sua carreira florescente se tornar realidade. Assim, ele aprendeu a usar o Photoshop e criar panfletos, e desenhou mapas das casas de shows locais para os quais precisava ir para distribuí-los. Sempre que voltava da escola, ele descobria como escrever músicas, editar vídeos e criar merch.
"Não me lembro de onde peguei essa ideologia, mas tenho a mentalidade de que: 'Se alguém está trabalhando mais do que eu, então ela merece mais'”, explica Awsten. "E quando você é uma banda local, precisa aprender a fazer tudo. Este é o caso mesmo se você se tornar o maior artista do mundo; no final do dia, ninguém se importa com o seu projeto tanto quanto você.”
É uma lição que ele aprendeu em primeira mão quando o Waterparks se tornou uma proposta séria. Ao gravar seu EP de estréia, Airplane Conversations de 2012, Awsten, Geoff e Otto ficaram por horas no meio do nada, esperando a equipe do estúdio aparecer, ou ficaram parado por dias enquanto os cartazes da apresentação levavam um bom tempo para chegar dos promotores. Uma abordagem proativa, então, tornou-se fundamental.
"Eu estava tipo, 'Cara, eles não dão a mínima, e se eu continuar contando com essas pessoas, simplesmente não vai dar certo'”, lembra Awsten. "Acho que ajudou, porque tudo vem do mesmo lugar, e acho que isso tornou mais autêntico".
Uma reviravolta traumática do destino também deu a Awsten mais tempo para que tudo acontecesse. Enquanto estava no colégio coletando idéias para o EP, o vocalista descobriu um grande tumor sob a patela [joelho] esquerda. Embora felizmente não fosse cancerígeno, ele foi submetido a cirurgia e seis meses de fisioterapia; se não, os médicos disseram que ele nunca mais voltaria a andar.
“Isso foi uma coisa positiva e eu vou te dizer o porquê”, ele ri de ânimo leve, detalhando como isso lhe deu o motivo pelo qual ele procurava não ter que fazer faculdade e, em vez disso, se concentrar na música em que ele colocava tanta energia. "Meus pais estavam tipo 'você precisa ir para a escola', mas como eu tinha acabado de fazer uma cirurgia, não podia — e foi aí que tive tempo de terminar todas as músicas. Terminei Airplane Conversations porque, fisicamente, meu corpo não podia ir à escola. Eu acho que isso foi destinado a acontecer. Porque, quem sabe se eu realmente teria desistido e não enfrentado as repercussões ruins?”
Os pais de Awsten estavam compreensivelmente ansiosos para que seu filho voltasse depois que ele se recuperasse, mas, em vez disso, ele fez uma promessa: se o Waterparks não fosse contratado através de seu próximo EP — Black Light de 2014 — ele voltaria à escola. Três palpites sobre o que aconteceu depois…
Enquanto os primeiros passos de Awsten Knight no mundo da música gravada ostentavam um toque natural de composição, suas performances ao vivo não poderiam ter sido mais assombrosas. Ele relutou até em cantar inicialmente, sabendo que se tocar violão fosse seu único trabalho, isso manteria os holofotes afastados.
"Fiquei super envergonhado com isso e muito tímido em cantar", lembra ele, olhando para o primeiro ano de shows em que ele foi essencialmente forçado a assumir o papel de vocalista. O músico iniciante tocava shows que eram meio material original e meio cover de artistas como Motion City Soundtrack e seus futuros gerentes de carreira, Good Charlotte. Durante uma versão em particular de Pretty Handsome Awkward de The Used, ele conseguiu tocar o primeiro verso e refrão antes de desmoronar inteiramente, e passou o resto da música olhando desconfortavelmente para o chão.
É surpreendente, dada a bola balbuciante de confiança que rouba a cena que Awsten é hoje. Ele tem um segredo: basta fingir até você conseguir.
"É brega", ele admite, "mas quando eu tinha essa idade — 16 ou 17 — eu pensava: 'F*da-se, eu sou Kanye West!' e foi literalmente como eu fiz isso. Ele simplesmente entra em uma sala e age como se não desse a mínima — e não de um jeito m*rda. Ele sabe que não vai estragar tudo. Mesmo que ele diga alguma coisa louca com a qual eu não concordo, eu ainda o admiro de muitas outras maneiras. Ele aparece como o epítome da confiança, então, quando eu estava muito nervoso ou com vergonha de fazer as coisas, eu apenas fingia que era ele.”
Só recentemente Awsten parou de adotar essa mentalidade. Turnês — incluindo um período difícil na Warped Tour em 2016 — ajudou a chegar a esse ponto; um cronograma interminável de dias incansavelmente quentes e longas viagens em uma van com vazamento fará isso com uma pessoa. Mas, ele diz que foi em 2018 que ele realmente encontrou seus pés como artista.
"Antes, eu fazia um show e pensava: 'Oh meu Deus, isso foi assustador!'", lembra Awsten. “Era como se eu estivesse tocando uma música, e a música estivesse voando — eu estava segurando a parte de trás dela, tentando não estragar tudo. Mas agora estou pilotando o avião, como a p*rra de um super-herói com a capa (risos). Quando você faz isso muitas vezes e finge essa confiança por tanto tempo, isso se torna real.”
A energia do Awsten inspirada em Kanye nem sempre soou a seu favor. A assinatura do vocalista é marcada por um cabelo verde-neon, um guarda-roupa ocasionalmente OTT [over the top] e uma abordagem colorida em seu Twitter, o que significa que ele nem sempre é levado tão a sério quanto sua dedicada ética de trabalho merece. "Existe uma coisa realmente estranha, e não faz nenhum sentido, mas se você trazer risada às pessoas, elas não te respeitam tanto, de certa forma", ele franze a testa. "Quando você é brincalhão e barulhento, mesmo que você goste, 'Ei, eu escrevi algo que realmente significa muito para mim', as pessoas ainda pensam: 'Hahaha! O palhaço do c*ralho disse alguma coisa!’ Às vezes pode ser difícil.”
Ele aponta para o último álbum, Fandom — um trabalho meticulosamente pensado e extremamente pessoal — como um exemplo da percepção do público indo contra ele. "Não quero que isso pareça egoísta, mas o Fandom é uma obra-prima", afirma Awsten. "Eu sei que isso pode parecer ruim, mas se você não é fã de sua própria m*rda, ou se não é a melhor coisa para você, então por que deveria ser a melhor coisa para alguém? E não sei... Por ser tão bom, não sinto que é totalmente reconhecido, especialmente na comunidade de compositores. E acho que boa parte disso é por causa de como certas pessoas — muitas pessoas ‘legais’ — escolhem ver o que é."
Embora seus obnóxios tweets possam sugerir o contrário, Awsten ficou magoado e desapontado por quantas pessoas são rápidas em desprezá-lo só por causa de... bem, quem ele é.
"É difícil não levar para o lado pessoal quando as coisas sobre as quais você está escrevendo são literalmente as coisas mais pessoais das quais você nem fala com amigos ou familiares", ele suspira. "Pode ser difícil não ser levado a sério quando você está sendo tão vulnerável e aberto. Mas no final do dia, as pessoas vão ver você como elas querem ver você, e você não pode impedi-las. Eu posso olhar para as letras do Fandom, e todos os seus estilos e gêneros, e posso dizer: 'Isso é legal pra c*ralho'. Não acho que haja outra banda fazendo o que estamos fazendo no momento — pelo menos do mesmo jeito. Mas o Twitter ainda vai ficar tipo, 'Eles são a banda pop-punk mais idiota de todos os tempos'. E eu fico tipo 'Essa é a última categoria do mundo em que quero fazer parte'. Se você realmente ouviu o álbum, sabe que não é isso. Mas vou dedicar minha energia a explicar isso a alguém, ou vou continuar fazendo coisas bacanas por mim e pelas pessoas que realmente se importam com o que estou fazendo?”
O maior medo de Awsten Knight no mundo é o fracasso. Só de pensar em de colocar tudo de si no Waterparks — e perseverar contra os detratores — apenas para que tudo desmorone é…
"Oh Deus, acho que prefiro morrer!" ele admite, com o mais leve ar de exagero. "A idéia de c*gar tudo, e não poder mais fazer música, ou se eu tivesse que voltar para casa... Simplesmente não conseguiria. Se eu colocar tudo isso lá fora, toda essa energia positiva, e trabalhar tanto, e falhar? Oh meu Deus…"
É uma dualidade estranha, quando você para para pensar. Como alguém que acredita que seu trabalho é uma obra-prima também se preocupa com a possibilidade de falhar?
Awsten faz uma pausa. "Eu acho, porque... Tipo, eu sou uma pessoa ansiosa e tenho coisas que preciso resolver, então naturalmente, mesmo que você não pense que isso vai acontecer, você ainda pode imaginar. Se eu achava que o Fandom era perfeito, e eu colocava cada parte de mim nele com um milhão de camadas, e é extremamente real e autêntico, criativo, é super bem escrito e intrincado... Se eu fizesse tudo isso e ele fracassasse e ninguém se importasse, eu estaria perdido. Se eu tenho certeza disso, e nada aconteceu, então toda a minha percepção é apenas... nada, sabe?"
Há uma série de razões perfeitamente válidas de que esse nunca será o caso de Awsten. Por um lado, suas ambições simplesmente não permitem que seja assim. Por outro lado, nem os fãs leais da Waterparks deixariam isso acontecer.
"A única diferença entre eu e qualquer outro cara tentando fazer música são eles [os fãs]", ele sorri. “No final de nossas primeiras semanas de vendas do Fandom (sem incluir encomendas/pre-orders), com todo o streaming e outras coisas, 23.000 cópias foram vendidas. Para alguém em uma gravadora independente, isso é loucura. E 100% do crédito é destinado a todas as pessoas que compraram cópias. Essa é a única coisa que nos separa, e nesta vida, onde acordo e faço música, e a minha versão em que tenho que ir para casa e voltar para a escola.”
Awsten acredita que sua honestidade com os ouvintes também fortaleceu o relacionamento com eles. O fato de várias músicas do Fandom destacarem os aspectos negativos da cultura de fãs de alguma forma tornou esse vínculo muito mais real. “I’m sick of all this, ‘How’d you get your band name? / Is that your real first name? / Can you text and can you follow back ’cause it’s my birthday?’ / No-one cares what I want / Just what I’ve got…”, ele lamenta no hit viral do TikTok, I Miss Having Sex But At Least I Don’t Wanna Die Anymore, antes de reclamar, “My death will be the fandom / Just keep your fucking hands up / Tell me I look handsome,” em War Crimes.
“Às vezes isso me deixa louco — quero dizer, eu fiz o Fandom, você já sabe disso”, ele ri. “Mas acho que a honestidade ajuda qualquer tipo de relacionamento, e se as pessoas realmente sabem que estou dizendo alguma m*rda verdadeira — seja nas músicas ou no Twitter, mesmo que pareça brincadeira — ainda vem de um lugar autêntico, e as pessoas podem reconhecer isso."
Ainda assim, a pressão de suas expectativas pesou para Awsten por um bom tempo (veja também: Dream Boy, do novo álbum). Ele não apenas lida em “ser” a pessoa de acordo como os fãs o vêem, mas também não consegue remover as memórias de ter seus seguidores a par de um rompimento angustiante de 2017.
"Digamos que você termine com alguém, e foi um rompimento muito ruim, e você estava do lado de fora de um cinema quando isso estava acontecendo, e um monte de gente estava assistindo — é tipo isso", diz ele, explicando como ele se sentiu. "Se eu saísse daquele cinema e nada estivesse acontecendo, e eu pudesse andar até o meu carro e sair, as pessoas ainda estariam olhando, mas não parece tão traumático. Se você pode manter suas coisas pessoais em sigilo não é tão traumático quanto as pessoas estarem olhando, porque ninguém vê nada. [Os fãs] Ainda são arrogantes, mas não há tanto espetáculo pessoal acontecendo onde eu sinta tão fortemente sobre isso.”
Se você pudesse se livrar do aspecto da fama da sua vida, você se livraria?
"Não", Awsten responde instantaneamente. "Porque então não posso fazer o que realmente quero, que é a música. E, também, mesmo que isso tenha desvantagens, eu ainda fiz isso de propósito. Eu trabalhei muito duro para chegar aqui, e eu não pensava: 'Não importa, f*da-se!' Eu gosto de fazer música e tocar o tempo todo mais do que não gosto das pessoas... (risos)."
Além do medo número um, o principal motivador de Awsten permanece uma insatisfação geral com o local em que está em sua carreira a qualquer momento. De fato, nunca se sentir satisfeito é provavelmente o que mais o alimenta. É por isso que ele passa tanto tempo olhando para os quadros de notas em seu apartamento, afinal.
"É difícil me sentir contente ou satisfeito, mas acho que é uma coisa boa, pois por que mais eu insistiria em tudo o que quero?" ele pergunta retoricamente. "Não é ótimo, porque definitivamente leva a certos níveis de infelicidade e descontentamento. Mas, quero dizer, é também o que faz tudo acontecer. Há um milhão de coisas que quero realizar. Eu quero fazer um filme, por exemplo. E se eu pensasse: 'Sim... eu vou chegar nisso... as coisas estão muito boas agora, então eu vou relaxar e tirar uma soneca', então talvez não me esforce tanto. Não quero arriscar isso."
E com grandes conquistas vêm objetivos ainda maiores. É um ciclo aparentemente inevitável para Awsten.
"Nesse setor, os momentos de pagamento não são tão freqüentes quanto deveriam — e não quero dizer isso em termos de dinheiro. Quando você é um artista de qualquer tipo, muitas vezes vai se sentir como um m*rda", ele reconhece. "Haverá tantas pessoas que não gostarão de você, e tantas pessoas dizendo coisas ruins, ou às vezes as oportunidades não funcionam da maneira que você deseja. Não é um trabalho emocionalmente gratificante. Você se sente mais vazio do que cheio. Então você tem que ir atrás dessas coisas e tomar todas as medidas possíveis, porque quando você pode ter esses momentos de sucesso, isso é uma grande parte do que mantém você indo."
Ainda há trabalho a ser feito, tanto pessoal quanto com o Waterparks. Mas, ao que parece, é assim que Awsten gosta.
"Nunca estou exatamente onde quero estar, e isso é importante. Isso leva a alguns sentimentos ruins, mas isso me faz trabalhar mais duro”, ele sorri. "E então coisas ainda mais legais podem acontecer..."
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